segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Palmadas: sim ou não?


por Ana Mehoudar

As situações que chegam ao judiciário ultrapassam os limites da compreensão humana e não podem permanecer impunes: a agressão corporal de crianças e adolescentes, moderada ou imoderada, é inaceitável. A lei procede.

Por sua vez, o limite entre o compreender e o educar é tênue e exige um exercício de avaliação constante por parte do adulto. Quando um bebê dá um suposto “tapa na cara” do adulto, longe da intenção de macular a sua honra, busca uma forma de comunicação - ainda não civilizada.
Cabe ao adulto segurar a sua mão e dizer que não pode.
A criança que insiste em colocar o dedo na tomada precisa de um não categórico. De nada valem explicações. Aquela que faz cenas de birra por não ter suas vontades satisfeitas, longe de ser ameaçada e humilhada, pode ser retirada da situação e protegida de sua onipotência infantil.

Reações intempestivas por parte do adulto deixam o pequeno “desentendido” e com uma noção de poder indevida e temerosa. Um jovem que pede autonomia precisa ser escutado com respeito para respeitar pais e professores. E de preferência, obedecer a acordos negociados, mesmo que com reiterados ensaios de rebeldia, para conquistar, aos poucos, a confiança desses adultos.

É aconselhável que o adulto possa traduzir em palavras o seu limite e o limite que a situação exige, antes que transborde.

A autoridade exercida com justiça é uma bússola preciosa que se transmite de geração em geração. O direito de se fazer obedecer e a obediência são facilitados quando existe a clareza de que, a rigor, quem manda também obedece, uma vez que elo de corrente maior de transmissão.

A palavra, posicionada, dispensa o uso da agressão física. De outra forma, a crença na impunidade permite o vislumbre da animalidade humana e coloca em risco o exercício da cidadania.


* Anna Mehoudar é psicanalista e atende pais há 25 anos.
anna_mehoudar@gampcursos.com.br
Foto: Google Images

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