Por Ana Mehoudar e Helena Grinover*
Bebês saudáveis nem sempre choram ao nascer. Chorar não é falar, mas o choro, tão desejado no primeiro minuto, logo desencadeia diferentes respostas e instala a possibilidade de uma conversa entre o adulto e a criança.
A qualidade da comunicação depende do bebê que reclama quando necessita do adulto e do adulto que procura agüentar as solicitações do bebê e oferecer respostas que possam satisfazê-lo.
Nos primeiros meses de vida o bebê suga, além do leite, parte da vida do adulto que se ocupa dele: horas de sono e tempo disponível para outros interesses. A vida fica ocupada para que o bebê possa constituir sua primeira estrutura psíquica.
Porém, se há um grande desencontro entre as solicitações do bebê e o que o adulto consegue lhe oferecer, pode se estabelecer um círculo vicioso: quanto mais o bebê exige, menos o adulto consegue atendê-lo e mais exigente se torna o bebê. Nessa situação ambos começam a sofrer mais do que é desejável.
Quando o adulto passa a se sentir incompetente e deprimido ou tende a responsabilizar o bebê - é uma criança difícil, cansativa, dá muito trabalho – é hora de fazer alguma alteração. Para que o quadro se reverta e configure um ciclo virtuoso é necessário que o adulto mude.
Choros insistentes levam alguns adultos a se desesperar. Nesses momentos, uma ajuda ao adulto pode alterar completamente a conversa com a criança e levar a conseqüências importantes no futuro de ambos. Para responder ao bebê o adulto precisa interpretar ou decifrar o significado do choro em suas diferentes modulações: fome, sono, dor de barriga, frio, fralda suja... Há também aqueles choros que ninguém consegue entender, e que são atendidos com colo, chupeta ou da maneira que cada adulto descobre com seu bebê.
O importante é que ambos, adulto e bebê, possam conversar sempre que alguma perturbação levar o pequeno ao choro, para que ele perceba que é cuidado e que o adulto dá conta de resolver seus desejos e necessidades.
O recém nascido quando submetido a desconfortos é invadido por uma tensão que o toma por inteiro. Nesses momentos vemos o bebê se retorcendo, se crispando todo, vermelho dos pés à cabeça e gritando cada vez mais alto. É aí que ele precisa sentir que suas tensões não o destruirão e que entra a capacidade do adulto de transmitir segurança, de dizer de alguma forma: “calma, vai passar, estou aqui com você, o que te incomoda?”
Um bebê cresce e tem condições de se constituir como sujeito humano se estiver envolvido em cuidados suficientes para que possa, cada vez mais, ampliar sua capacidade de suportar a angustia, substituir objetos e fantasiar, esperar e se satisfazer. O exemplo mais clássico é o da chupeta que substitui o peito ou a mamadeira. Só quando a fome ultrapassa certo limiar é que essa substituição fracassa. Outras substituições são mais permanentes, por exemplo, o leite por alimentos sólidos, o colo por abraços, carinhos e brincadeiras.
A conversa com o adulto vai levando o bebê a ser cada vez mais seguro e criativo. Há momentos em que o som da voz é suficiente para satisfazê-lo e interromper o choro.
*Ana Mehoudar e Helena Grinover são psicanalistas e atendem pais em creches há 4 anos