quarta-feira, 2 de junho de 2010

Bebês falam quando choram



Por Ana Mehoudar e Helena Grinover*





Bebês saudáveis nem sempre choram ao nascer. Chorar não é falar, mas o choro, tão desejado no primeiro minuto, logo desencadeia diferentes respostas e instala a possibilidade de uma conversa entre o adulto e a criança.

A qualidade da comunicação depende do bebê que reclama quando necessita do adulto e do adulto que procura agüentar as solicitações do bebê e oferecer respostas que possam satisfazê-lo.

Nos primeiros meses de vida o bebê suga, além do leite, parte da vida do adulto que se ocupa dele: horas de sono e tempo disponível para outros interesses. A vida fica ocupada para que o bebê possa constituir sua primeira estrutura psíquica.

Porém, se há um grande desencontro entre as solicitações do bebê e o que o adulto consegue lhe oferecer, pode se estabelecer um círculo vicioso: quanto mais o bebê exige, menos o adulto consegue atendê-lo e mais exigente se torna o bebê. Nessa situação ambos começam a sofrer mais do que é desejável.

Quando o adulto passa a se sentir incompetente e deprimido ou tende a responsabilizar o bebê - é uma criança difícil, cansativa, dá muito trabalho – é hora de fazer alguma alteração. Para que o quadro se reverta e configure um ciclo virtuoso é necessário que o adulto mude.

Choros insistentes levam alguns adultos a se desesperar. Nesses momentos, uma ajuda ao adulto pode alterar completamente a conversa com a criança e levar a conseqüências importantes no futuro de ambos. Para responder ao bebê o adulto precisa interpretar ou decifrar o significado do choro em suas diferentes modulações: fome, sono, dor de barriga, frio, fralda suja... Há também aqueles choros que ninguém consegue entender, e que são atendidos com colo, chupeta ou da maneira que cada adulto descobre com seu bebê.

O importante é que ambos, adulto e bebê, possam conversar sempre que alguma perturbação levar o pequeno ao choro, para que ele perceba que é cuidado e que o adulto dá conta de resolver seus desejos e necessidades.

O recém nascido quando submetido a desconfortos é invadido por uma tensão que o toma por inteiro. Nesses momentos vemos o bebê se retorcendo, se crispando todo, vermelho dos pés à cabeça e gritando cada vez mais alto. É aí que ele precisa sentir que suas tensões não o destruirão e que entra a capacidade do adulto de transmitir segurança, de dizer de alguma forma: “calma, vai passar, estou aqui com você, o que te incomoda?”

Um bebê cresce e tem condições de se constituir como sujeito humano se estiver envolvido em cuidados suficientes para que possa, cada vez mais, ampliar sua capacidade de suportar a angustia, substituir objetos e fantasiar, esperar e se satisfazer. O exemplo mais clássico é o da chupeta que substitui o peito ou a mamadeira. Só quando a fome ultrapassa certo limiar é que essa substituição fracassa. Outras substituições são mais permanentes, por exemplo, o leite por alimentos sólidos, o colo por abraços, carinhos e brincadeiras.

A conversa com o adulto vai levando o bebê a ser cada vez mais seguro e criativo. Há momentos em que o som da voz é suficiente para satisfazê-lo e interromper o choro.


*Ana Mehoudar e Helena Grinover são psicanalistas e atendem pais em creches há 4 anos

2 comentários:

  1. Quem conhece a Rebeca, minha filha de 8 meses, pergunta: "Nossa Di, e ela é sempre assim, quietinha?" E eu respondo "Sim". A converesa continua: "e esse é o maximo de choro que ela dá?" "é sim, a não ser que esteja com alguma dor, febre ou medo." "nossa, como você conseguiu isso?" Explico que procuro manter a calma, sempre, ter paciencia, e explicar tudo que estou fazendo, vou fazer, por que. Pergunto, deixo que ela me "responda", e se percebo que estou muito nervosa pra conseguir ou lembrar de fazer isso, respiro fundo, fecho os olhos, conto ate 5, e começo de novo. A minha calma e segurança serão a dela. A calma dela é a minha calma. E assim, com esse dialogo, a Rebeca é uma das crianças mais risonhas e sossegadas que vejo em muito tempo. ^^ Funciona pessoal, conversem com eles!

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  2. Eu também tenho uma filhinha chamada Rebeca, de 1 aninho e 8 meses! Ela também é um doce de criança... desde bebezinha sempre muito tranquila e feliz! Poucas vezes meus familiares ouviram seu choro. Também sou psicóloga, e meu receio era não conseguir por em prática tudo aquilo que eu aprendi e orientava. Mas graças a Deus, com calma e muito amor, as coisas vão se encaixando no lugar, e todo o receio, medo e ansiedade, misturados com muita alegria e satisfação, foram se equilibrando e creio que até hoje tem surtido muitos efeitos positivos na vida da Bekinha, na nossa família. O diálogo com bebês é hiper importante, e o apoio e companherismo do marido, do pai, creio que faz toda a diferença! Nos deixa mais tranquilas e seguras, pois temos com quem compartilhar!
    Conheci o Blog da Petit a pouco tempo e estou amando! O atendimento on line da loja também é maravilhoso, muito obrigada por toda atenção Roberta!
    Bjsss

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