É comum ouvirmos expressões como 'Estou exausta, acabada, destruída, cheguei ao meu limite, não dou conta'... No começo não há trégua mesmo, o recém nascido exige cuidados ininterruptos.
Os filhos crescem e continuam exigindo um trabalho diário. Os adultos tendem a se organizar, dividir tarefas e delimitar frações de tempo para projetos que não incluem crianças. Tudo isso para qualquer cansaço ser evitado.
Quando o adulto tenta evitar todas as frustrações da criança, resiste a ocupar a sua condição de ser humano limitado e incompleto, seu cansaço aumenta.
Orecém nascido terá, pouco a pouco de ir passando por frustrações. O pequeno deverá aprender a pedir e a esperar pela ação do adulto.
Todos nós herdamos de nossos pais a possibilidade de um dia ocuparmos esse lugar. Mas essa passagem nem sempre é fácil.
Muitas vezes, sem que se dêem conta, os adultos têm o desejo de permanecer na situação de deleite infantil e adiam os limites necessários: o banho, o jantar, a arrumação dos brinquedos, a lição, a hora de ir para a cama. Quanto mais se arrasta no tempo a “ausência” dos pais na função de educadores, mais as crianças se confundem e maior é o drama familiar.
Educar consiste em interditar parte da realização dos desejos infantis, por isso mesmo cabe às crianças e aos jovens subverter, driblar, testar e, em certa medida, sempre escapar das mais bem intencionadas ações educativas.
Certa rebeldia e contestação são necessárias para que a criança não seja totalmente moldada por seus educadores, esvaziada de vida própria, apagada em sua subjetividade. É absolutamente necessária a ação e a presença firme do adulto para prover referências necessárias para que a criança e o jovem se orientem.
O espaço construído pelo educador, com as marcas do interditado e do permitido forma um mapa para que os pequenos tracem caminhos próprios com segurança suficiente para se separarem gradualmente dos adultos.
Adultos que assumem seus lugares, legitimamente conquistados, podem usufruir de seu descanso. Caso contrário, o dia a dia ficará impregnado de explosões, gritaria, perda de paciência e muito, muito cansaço.
* Ana Mehoudar e Helena Grinover são psicanalistas e atendem pais e crianças há mais de 20 anos
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